O Janeiro Branco é um movimento dedicado à conscientização sobre a saúde mental. Criado no Brasil em 2014, esse mês é usado para incentivar reflexões, debates e ações voltadas ao cuidado emocional e psicológico.
Apesar de muitas campanhas serem focadas em adultos, é fundamental incluir nossas crianças nesse diálogo, já que a saúde mental na infância tem um impacto substancial no desenvolvimento e no bem-estar ao longo da vida.
A saúde mental das crianças é muitas vezes negligenciada, seja por desconhecimento dos pais ou pela opinião equivocada de que elas não têm problemas emocionais.
No entanto, mesmo na infância, as crianças experimentam o mundo de forma intensa, e situações que parecem pequenas para um adulto podem ser enormes para elas.
Uma mudança de escola, conflitos com os amiguinhos ou até mesmo a pressão por boas notas podem gerar um imenso estresse e afetar gravemente seu bem-estar emocional.
Saúde mental infantil: além dos sinais visíveis
Muitas vezes, a saúde mental das crianças é vista apenas pela lente dos comportamentos considerados ruins: crises de choro, agressividade, dificuldade de adaptação ou socialização, dentre outros.
No entanto, existem pontos mais sutis que também merecem atenção, como por exemplo:
- Hiperatividade social: crianças que estão sempre alegres, dispostas e sociáveis podem estar camuflando inseguranças intencionalmente suas dificuldades. Nem sempre a alegria constante é um sinal de equilíbrio emocional; às vezes, é uma tentativa de aceitação ou de agradar.
- Interesses exagerados: uma dedicação exagerada a hobbies ou atividades, como videogames ou esportes, pode ser uma forma de fuga de emoções difíceis de lidar.
- Silêncio excessivo: crianças que evitam demais se expressar verbalmente podem estar internalizando emoções que não sabem como compartilhar em palavras.
Os pais e cuidadores devem buscar observar comportamentos de maneira mais contextualizada, considerando a história de vida e o ambiente ao redor da criança, pois esse olhar pode revelar mais sobre o estado emocional dos pequenos do que focar apenas em mudanças específicas.
Saúde mental e a diversidade
Outro ponto de atenção é como questões culturais, de gênero ou sociais podem influenciar a saúde mental infantil.
Isso porque crianças que pertencem a grupos sub-representados ou que enfrentam discriminação têm maior probabilidade de apresentar ansiedade, depressão ou crises de baixa autoestima.
Por exemplo, crianças que desde cedo sentem que não podem se encaixar nos padrões tradicionais (gênero, cor da pele, origem, etc.) e passam a sofrer exclusão, tem seu bem-estar emocional afetado negativamente em vários níveis.
Saúde mental infantil e redes sociais
Mesmo as crianças pequenas estão cada vez mais imersas no mundo digital. Porém, desde aplicativos de vídeos curtos até jogos interativos, essas plataformas frequentemente expõem as crianças a comparações, competição e até mesmo frustrações.
Contudo, mesmo sem entender completamente, crianças em idade escolar já podem sentir a necessidade de receber “curtidas” ou reconhecimento em atividades digitais, e essa busca por aceitação virtual pode impactar sua autoestima.
Ademais, o fluxo constante de informações coloridas, animadas e rápidas pode influenciar na capacidade da criança de lidar com momentos de tédio ou calma, que são essenciais para o bom desenvolvimento emocional.
Portanto, não é a primeira vez que falamos aqui, limitar e monitorar o uso da tecnologia é importante, mas também é de suma importância ensinar a interpretar o conteúdo consumido.
Família e saúde emocional
A maneira como uma família lida com emoções e conflitos afeta diretamente a saúde mental das crianças. Há famílias que evitam discussões, outras que normalizam emoções mais complexas e ainda aquelas que negligenciam completamente o diálogo sobre sentimentos.
Entretanto, um aspecto frequentemente ignorado é como as crianças absorvem essas dinâmicas. Se os pais não costumam falar sobre seus próprios sentimentos, as crianças podem crescer acreditando que emoções devem ser guardadas.
Contudo, em ambientes onde os conflitos são resolvidos com gritos ou silêncio prolongados, os filhos podem aprender a evitar confrontos de qualquer tipo ou o inverso, reagindo agressivamente a tudo.
Por isso, cultivar um universo familiar onde seja natural conversar sobre sentimentos de todos os tipos, especialmente aqueles que não são bons, pode prevenir muitos problemas emocionais.
Um janeiro para todos
No contexto do Janeiro Branco, é importante reconhecer que a saúde mental das crianças não se limita a questões individuais.
Na verdade, ela está diretamente conectada ao ambiente em que vivem, às relações que constroem e às mensagens que recebem sobre como o mundo funciona.
Desse modo, esse mês pode ser um ponto de partida para que famílias e até as escolas repensem suas práticas e incluam o bem-estar emocional das crianças como uma prioridade.
Aproveite esse mês para iniciar ou ampliar atitudes que promovam uma infância mais saudável, com espaço para sentimentos, mesmo que sejam complexos e desafiadores.
Afinal, cuidar da saúde mental dos pequenos desde cedo é investir em um futuro mais equilibrado e feliz.