O internetês ganhou força no Brasil a partir da chegada de redes sociais e bate papos como Messenger, o extinto Orkut e o Facebook. Visando agilizar a escrita, algumas palavras começaram a ser abreviadas indiscriminadamente pelos internautas. Foi assim que “você” virou “vc”, “hoje” virou “hj” e “risos” virou “rs”, por exemplo. É importante que pais e educadores garantam que as crianças aprendam o português formal e saibam quando e onde utilizar as abreviações.
Linguagem Internetês ou netspeak: positivo ou negativo para nossas crianças?
A linguagem internetês é o termo adotado para nos referirmos à linguagem utilizada por crianças e adolescentes no ambiente virtual.
Se você é um pai ou responsável por alguém nessa faixa etária já deve ter reparado algumas diferenças com relação a forma correta de escrita das palavras e aquela utilizada só na internet.
Apesar de funcionar muito bem no ambiente virtual – mesmo causando confusão em quem não está plenamente habituado a esse novo “idioma” – alguns especialistas entendem que o internetês pode trazer malefícios para o desenvolvimento linguístico.
O que é e como surgiu o internetês?
“E aí, blz? Vc pd sair hj?”. Se você entendeu o que essa frase quer dizer parabéns! Você é fluente em internetês. Também conhecido como “net speak”, esse é um novo jeito de se comunicar por escrito, mas que não é tão inocente quanto parece. Fato é que esses e outros termos passaram a ser replicados tantas e tantas vezes que ao final o que temos é uma nova linguagem capaz de comprometer a forma correta da ortografia.
Impactos no aprendizado
É inegável que a chamada net speak funciona, sim, muito bem no ambiente virtual. Com ela é possível acelerar as conversas e até tornar o papo mais descontraído e menos formal nos aplicativos de troca de mensagens. O problema é que isso pode também impactar a linguagem fora desse ambiente.
Crianças e adolescentes passam grande parte de seus dias conectados, principalmente pelos celulares. O contato com o mundo “real” está cada vez mais reduzido, o que significa que o contato com a forma correta de ortografia também é menor.
Então, para os mais jovens que estão em fase de aprendizado e fixação das normas ortográficas da língua portuguesa, o internetês pode ser um complicador em alguns casos.
Qual é o grande desafio?
Ainda que haja, sim, um certo risco, não há necessidade de alarde. Até o momento parece que jovens e crianças que crescem em meio ao internetês entendem muito bem em que ocasião podem usar essa linguagem.
No entanto, alguns alunos podem apresentar certa dificuldade em compreender textos mais complexos e também demonstram desvios na escrita. Isso pode se tornar ainda mais drástico em crianças em fase de alfabetização.
O principal motivo é o fato de que as crianças e adolescentes passam muito tempo na internet entretidos em conteúdos que não contém a forma escrita correta da nossa língua.
Dessa forma é normal que naturalizem alguns erros que se tornaram populares no ambiente digital – mas que são considerados inaceitáveis na forma culta da língua.
Dicas para evitar problemas com o internetês
Sabendo da existência dessa nova linguagem e dos impactos que ela eventualmente pode causar, pais e educadores devem estar atentos a isso.
Esses adultos têm papel fundamental na formação educacional e também podem auxiliar nesse processo de aprendizagem do português. Algumas dicas são:
Estimule a leitura:
Através da leitura tradicional, crianças e adolescentes conseguem conhecer a forma correta de escrita e se habituam com a norma ortográfica. Além disso, a leitura ajuda a ampliar o vocabulário e estimula a compreensão textual.
Conheça o universo digital:
Tanto a escola quanto os familiares também devem procurar conhecer mais sobre o ambiente virtual e consequentemente a linguagem adotada nele. Se inteirar sobre esse assunto e até mesmo demonstrar interesse por ele é importante para acompanhar o desenvolvimento de crianças e jovens.
Controle o tempo na internet:
O uso desenfreado da internet não é saudável. É importante que os pais controlem isso e incentivem seus filhos a realizarem atividades também fora desse ambiente. Além disso, é importante acompanhar e estar atento à segurança no ambiente digital.
Mas, além do controle, o mais importante é tentar sempre explicar de acordo com a faixa etária, o motivo de ser preciso deixar os dispositivos eletrônicos um pouco de lado. Quando os pequenos compreendem, fica mais fácil para eles atender sem achar que se trata de punição ou qualquer atitude nesse sentido.
Dicionário de internetês: conheça alguns termos mais famosos
Para lhe auxiliar nesse processo de familiarização com esse novo “idioma” preparamos um dicionário com alguns termos que são muito utilizados e que costumam ser bastante repetidos nos bate-papos virtuais.
- Vc – Você;
- Tbm – também;
- Obg – Obrigado, obrigada;
- Cmg – Comigo;
- Kd – cadê;
- Blz – beleza;
- Hj – hoje;
- Abç – abraço.
Na maioria das vezes, como você pode notar, o net speak é baseado em uma espécie de abreviação. Isso está diretamente ligado a agilidade que a comunicação virtual requer.
Internetês pode ser uma evolução do idioma
Além dos estudiosos e educadores que consideram o internetês um problema e até mesmo uma ameaça à educação, há também aqueles que consideram esse um processo natural e evolutivo da língua.
Quem acredita nisso alega que não falamos mais como falávamos no século XVI, por exemplo. O “vosmecê” deu lugar ao “você”, o “cousa” deu lugar à “coisa” etc. Existem inúmeros exemplos de palavras que mudaram a sua forma escrita e consequentemente falada para se adaptarem ao novo tempo.
Fato é que com a ocorrência da inclusão digital cada vez mais pessoas estão tendo contato com essa nova forma de escrever o português. Isso contribui para que o internetês se torne mais difundido e ganhe mais espaço.
Com isso, não há necessidade de olhar para essa linguagem com ódio ou total aversão. É importante, sim, entender que o internetês não deve tomar o lugar da forma culta e que o português formal ainda é fundamental.
É ou não é uma ameaça?
É importante entender que a internet cresceu e hoje requer, sim, um tipo de comunicação próprio. E ela é completamente diferente daquela que lemos nos livros ou daquela que usamos com os amigos no bar. Existe um dialeto particular para o ambiente virtual.
Portanto, ainda que seja uma linguagem esdruxula, não podemos dizer que o internetês é absolutamente errada. Se trata de uma linguagem que possui um ambiente próprio.
O importante é que as crianças e os adolescentes entendam justamente isso, que há hora e lugar certo para usar essas abreviações e que em outras ocasiões não se aplicam com a mesma naturalidade.
De qualquer forma, o internetês já é uma realidade e já faz parte do dia a dia. A tendência é que essa nova forma de comunicação se popularize ainda mais. Alertar sobre a forma correta de usá-la é missão dos pais, responsáveis e educadores.