“Eles já nascem sabendo”.
Você provavelmente já ouviu essa frase se o seu filho tem 10 anos ou menos. Ela geralmente se refere às crianças da geração Alpha e diz respeito as habilidades desses “serezinhos” ágeis ao lidar com a tecnologia.
As divisões geracionais realmente mudam a gente. E, sim, crianças da atualidade podem demonstrar facilidade para lidar com coisas que são estranhas ou complicadas para seus pais – e mais ainda para os avós.
Conhecer a geração Alpha é um ponto fundamental para entender como essas crianças podem usar suas habilidades positivamente, e também aprender a lidar com possíveis padrões comportamentais.
Isso é importante para que os pais consigam conduzir uma educação equilibrada e saudável para seus filhos.
Qual é a geração Alpha?
A geração Alpha é aquela que compreende crianças nascidas a partir do ano de 2010 até hoje, 2022.
Segundo um artigo publicado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, aqueles que compõem a geração Alpha são os hiper conectados. Interagem na maior parte do tempo através do universo online.
No entanto, podem ter algumas dificuldades de socialização justamente por estarem mais presentes no ambiente digital. Essa geração se estenderá até o ano de 2025.
Porque o nome geração Alpha?
O termo “Alpha” foi criado por um sociólogo australiano, Mark McCrindle, que passou a estudar o comportamento das pessoas nascidas a partir de 2010.
O estudioso possui inúmeros trabalhos relacionados ao tema e é uma grande referência no assunto.
Em um de seus artigos, McCrindle cita que até 2025, ano em que essa geração se encerra para iniciar outra, haverá mais de 2 bilhões de pessoas nascidas desde 2010, fazendo desse o maior grupo dentre todos de gerações anteriores.
Alpha, por sua vez, é o nome dado a primeira letra do alfabeto grego. Também pode ser traduzido, de forma metafórica, como “começo” ou “início” de algo.
De fato, iniciou-se em 2010 uma nova geração, que é totalmente digitalizada e quase naturalmente familiarizada com a tecnologia.
Comportamentos e características
Uma das características mais inerentes a esses pequenos é uma aptidão notável para lidar com dispositivos tecnológicos.
Você já deve ter notado como essas crianças surpreendentemente manuseiam um celular ou tablet com grande facilidade – nem precisam de longas explicações.
Em alguns casos elas parecem já saber como o aparelho funciona, exploram curiosas, usando os dedos com desenvoltura (touch) e encontram soluções para utilizar a tela.
Mas, não é só isso. Outras características são:
Independência
É comum que essas crianças pareçam mais independentes em muitos aspectos. Isso ocorre, por exemplo, na facilidade com que ela busca e encontra respostas para o que deseja usando a internet.
Para elas esse caminho é muito mais prático, natural e eficiente do que buscar respostas em um livro, por exemplo. Você dificilmente verá uma criança da geração Alpha realizando pesquisas em uma biblioteca.
A leitura, para elas, é digital – mesmo que você ainda insista em ler um livro físico como ritual noturno antes do sono.
Uma geração curiosa
A independência também se manifesta junto com a curiosidade.
Se você entregar um computador ou outro objeto semelhante para uma criança da geração Alpha, ela vai fuçar incansavelmente até entender como funciona.
Isso quer dizer que aprendem muito bem. Isso porque são mais questionadoras e analíticas. Desse modo, podem demonstrar um potencial cognitivo maior.
Uma geração mais ágil
A agilidade surge em muitos aspectos na vida dessas crianças. Mas, principalmente, na forma como elas recebem informações e consomem tudo rapidamente.
Crianças com mais empatia
Uma das melhores características desse grupo é que são seres humanos muito mais empáticos. Claro, afinal, são crianças que têm acesso à dados e informações de maneira quase irrestrita.
Isso quer dizer que estão acostumadas a ver o que é diferente, e conseguem compreender contextos com facilidade, conseguindo se ver no lugar de outras pessoas com situações e vivências distintas das delas.
Escolaridade e aprendizado da geração Alpha
Para os pais, educadores – e para a sociedade em geral – uma das coisas mais importantes é entender como a geração Alpha aprende e assimila informações.
As crianças usam as telas como meio de aprendizado. Isso já começou a acontecer com a geração Z, a anterior. Ou seja, os jovens usam muito a internet, estão conectados praticamente em tempo integral e usam celulares e tablets para quase tudo.
Boa parte dos estudos e do entretenimento se vincula a artefatos tecnológicos.
Eles aprendem com – e através – dos dispositivos. Isso significa que daqui para frente talvez seja impossível pensar em uma educação totalmente analógica – ou offline.
Faz parte do novo processo de aprendizado lidar com a web, fazendo uso da tecnologia como apoio para a educação escolar.
Para geração Alpha é natural pesquisar temas e aprender a identificar fontes online confiáveis para os estudos.
Essas crianças fazem isso de maneira cada vez mais autônoma – demonstrando independência também para encontrar respostas e soluções.
Problemas da geração Alpha
Mas, nem tudo são flores. Ao mesmo tempo em que essas crianças têm grande acesso às coisas que seus pais não tiveram, elas também são expostas a um volume imenso de conteúdos.
Isso causa alguns problemas, tais como:
- Dificuldade em absorver o conteúdo escolar por meios tradicionais e mais lúdicos;
- Tendência a ver tudo superficialmente, pois devido ao volume de informações, absorvem pouco e não buscam profundidade nos assuntos;
- Frustração e raiva demasiadas quando algo não sai como esperado, além de um senso de imediatismo alto demais;
- Sensação de estarem perdidos quando se veem “desconectados”, com dificuldade em ambientar-se;
- Impaciência e irritabilidade.
Além disso, essas crianças tendem a apresentar problemas para se concentrar. Isso ocorre porque elas são submetidas a muitos estímulos simultâneos e diferentes.
Sendo assim, coisas que requerem atenção por mais tempo podem se tornar desinteressantes.
Ademais, embora sejam empáticas, essas crianças podem não lidar facilmente com as próprias emoções. Sobretudo, quando se deparam com situações desfavoráveis do seu ponto de vista.
Elas demonstram maior hostilidade e propensão a episódios de raiva – desproporcionais – quando se sentem frustradas ou são confrontadas.
Dicas para lidar com a geração Alpha
Crianças nunca vieram com manual de instruções.
Mesmo a geração Alpha que nasceu em tempos modernos, não possui exatamente um padrão a ser seguido para educação. Mas, algumas dicas podem ajudar os pais e educadores a lidar com esses pequenos.
Se atualize sobre tecnologia
Essas crianças querem conversar sobre assuntos que estão presentes no seu dia a dia. E ainda que você não consiga acompanhar a geração Alpha no quesito tecnologia, é interessante se inteirar sobre esse assunto.
Informe-se sobre tudo, principalmente a respeito de redes sociais e últimos lançamentos em dispositivos.
Busque abordagens mais dinâmicas
A educação e a própria comunicação precisa ser mais dinâmica com a geração Alpha. Com acesso a tanta informação é normal que as crianças se entediem com mais facilidade.
Disputar atenção com as telas pode ser difícil, mas os pais e educadores podem adotar maneiras mais eficientes de lidar com isso.
Algumas dicas são:
- Gamificação da educação: (adotar técnicas usadas em jogos eletrônicos para prender a atenção, como por exemplo impor desafios, criar uma jornada etc.);
- Metodologia STEAM: (metodologia que une Ciência, Tecnologia, Engenharia, Arte e Matemática);
- Educação híbrida;
- Personalização do ensino.
Vale lembrar que só porque estão super conectadas não significa que as crianças devem ser privadas de brincadeiras antigas e tradicionais. Confira aqui diversas opções de atividades offline e muito legais.
Pais e educadores podem encontrar um ponto de equilíbrio entre a tradição e a modernidade. Algumas crianças poderão surpreender ao demonstrar interesse em brincadeiras “à moda antiga”.
A saúde mental da geração Alpha
Por fim, não podemos deixar de abordar um tema importantíssimo: a saúde mental da geração Alpha. Essas crianças podem evidenciar algumas dificuldades, tais como:
- Problemas para lidar com suas emoções;
- Dificuldade para aceitar “não” ou ser contrariada;
- Intolerância ao fracasso;
- Preocupação exagerada com autoimagem;
- Baixa autoestima;
- Agressividade intensa.
Um estudo do Instituto Federal de Santa Catarina aponta sobre a eficácia do uso de músicas no ensino para crianças dessa geração.
Além disso, os pais devem estar atentos e buscar orientação profissional caso percebam quadros de ansiedade infantil e depressão.
No mais, a geração Alpha aponta mudanças importantes – e definitivas – para a sociedade.
São crianças cheias de informação, com habilidades tecnológicas muito desenvolvidas e que podem nos fazer refletir sobre o mundo que estamos construindo.