Historicamente, apenas a depressão pós-parto ganhou destaque, mas estudos mais recentes indicam que os sinais de depressão podem começar ainda no período da gravidez.
Devido a isso, nos Estados Unidos, por exemplo, o governo recomenda fortemente que as mulheres adicionem acompanhamento psicológico aos seus cuidados pré-natais e continuem com eles mesmo após o nascimento do bebê.
Essa abordagem visa não apenas proteger a saúde mental das mães, mas também garantir o bem-estar de seus filhos. Isso porque, depressões perinatais, se não tratadas corretamente, podem afetar o desenvolvimento emocional e comportamental das crianças desde o ventre.
Medidas como essa são de suma importância, pois já sabemos que o bem-estar da mãe está diretamente relacionado à criação de um vínculo seguro e saudável com o bebê. Além disso, tal vínculo é essencial para o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.
Inclusive, o livro “Ciência dos Bebês” de John Medina destaca que crianças que se sentem seguras são mais felizes e têm maior probabilidade de se desenvolverem melhor em termos de inteligência.
Sintomas da depressão perinatal
Muitas pessoas podem não estar cientes de que uma em cada sete mulheres corre o risco de sofrer de depressão ainda durante a gestação ou após o parto. Diante disso, fica nítida a necessidade de maior conscientização sobre o problema e intervenção.
A especialista Mariza Theme, médica e pesquisadora da ENSP/Fiocruz, esclarece que os transtornos mentais perinatais não se restringem apenas à depressão.
Também é importante considerar a ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, psicose pós-parto, transtorno de pânico e outras fobias que podem ocorrer.
Nesse contexto, podemos afirmar que a gestação e o pós-parto são períodos cruciais para a saúde das mulheres e de seus bebês, e o reconhecimento de sintomas, sejam leves ou não, é fundamental para proporcionar o suporte necessário.
Fatores de risco e impactos psicossociais
Diversos fatores psicossociais podem aumentar o risco de transtornos mentais durante a gravidez, por exemplo:
- Lidar com gestações não planejadas;
- Complicações durante a gravidez ou parto;
- Sono insuficiente ou de baixa qualidade;
- Nascimento prematuro do bebê;
- Estresse contínuo;
- Falta de apoio no lar ou em outros ambientes.
Esses são alguns dos fatores que podem contribuir para desencadear problemas de saúde mental, porém, evidentemente, não são os únicos. Cada gestante tem seu próprio contexto de vida, sendo necessário contar com apoio especializado para identificar suas necessidades individuais.
Muitas mudanças em pouco tempo
As mudanças físicas e emocionais que acometem a gestante em um período relativamente curto, podem sobrecarregá-la de tal forma que deixam-na exausta, aumentando os níveis de estresse e ansiedade.
Nesse sentido, é primordial diferenciar o cansaço extremo de uma depressão, pois os sintomas podem se sobrepor.
Por isso, ressaltamos, buscar ajuda médica é determinante para diagnosticar o que realmente está acontecendo e gerenciar o problema adequadamente.
O que fazer para cuidar da saúde mental na gestação
Verificações regulares de sintomas depressivos e de ansiedade, desde a gravidez até um ano após o parto, são recomendadas em países como o Reino Unido e a Austrália.
Já no Brasil, essas práticas ainda não são universais, embora saibamos agora serem extremamente necessárias. A questão é que a atenção pré-natal em nosso país ainda está focada principalmente na saúde física da mãe e no desenvolvimento do bebê.
Contudo, no Brasil há também uma questão comportamental e cultural que precisa ser revista.
Infelizmente, estudos mostram que mais da metade das mulheres com algum tipo de transtorno mental não procura ajuda devido ao estigma, medo de serem vistas como más mães, ou falta de conhecimento sobre a depressão perinatal. Mas, isso precisa mudar.
É necessário incluir avaliações emocionais na rotina de cuidados, e as grávidas devem solicitar isso aos seus médicos tendo ou não sintomas visíveis de alguma desordem mental ou emocional. O cenário muda ao longo dos 9 meses e por isso o acompanhamento é tão importante.
Vale dizer também que as oscilações hormonais podem afetar a forma como a mulher se sente, mudando em diferentes momentos da gestação. Assim, monitorar a saúde mental deve ser tido como algo regular durante a gravidez e se estender até o pós parto.
A importância do tratamento
Não tratar a depressão perinatal pode ter consequências negativas a longo prazo tanto para a mãe quanto para o bebê.
Logo, a identificação precoce de algum problema e o foco no tratamento são essenciais para prevenir esses impactos negativos no desenvolvimento da criança e na saúde da mulher.
Medicamentos antidepressivos poderão ser necessários e a prescrição feita por um médico especialista durante a gestação ou amamentação é considerada segura. Soma-se a isso o acompanhamento psicoterápico que também é parte importante de um tratamento eficaz.
A depressão perinatal é algo sério que requer atenção da gestante e intervenção médica quanto antes.
Mas, com o apoio da família e dos profissionais de saúde, é possível lidar com o problema, proporcionando um ambiente mais seguro e acolhedor para as grávidas, garantindo que elas e seus bebês desfrutem dessa fase de forma mais saudável e feliz.