A espera pela adoção geralmente mescla os sentimentos de ansiedade e esperança, uma vez que os futuros pais se preparam para acolher uma nova vida em suas famílias, mesmo que ainda não saibam exatamente quando isso vai acontecer.
Esses sentimentos são totalmente compreensíveis, afinal se trata de um momento marcado por incertezas, pois o tempo de espera pode variar consideravelmente, dependendo de fatores como a idade da criança, as preferências dos pais sobre o perfil do adotado, e a burocracia envolvida no processo.
Sendo assim, é comum que durante essa fase os futuros pais enfrentem também sentimentos de impotência, já que grande parte das definições em relação à chegada da criança estão fora de seu controle.
Por isso, a preparação psicológica é fundamental, pois tanto a espera quanto a chegada de um filho adotivo pode trazer à tona uma série de desafios emocionais que nem sempre são previsíveis.
A importância do acompanhamento psicológico para pais e filhos adotivos
Conforme dissemos, a adoção em si pode gerar questões emocionais tanto para a criança quanto para os pais. Diante disso, o acompanhamento psicológico é uma ferramenta de alto valor para ajudar ambas as partes na adaptação à nova dinâmica familiar.
Para as crianças, especialmente aquelas que foram adotadas em uma idade mais avançada, o suporte psicológico se torna determinante para lidar com traumas passados, medos e a própria aceitação da nova realidade.
Já os pais adotivos, por sua vez, podem se beneficiar do acompanhamento psicológico para entender melhor as necessidades emocionais de seus filhos e para trabalhar suas próprias expectativas e sentimentos em relação à adoção.
O desenvolvimento gradual do amor materno e paterno por filhos adotivos
Uma das preocupações mais recorrentes dos pais é se o amor pelo filho adotivo será tão profundo quanto o que sentiriam por um filho biológico.
Nesse sentido, é importante compreender que o amor materno e paterno nem sempre se desenvolve instantaneamente; na maior parte das vezes, é um processo gradual que se fortalece com o tempo e a convivência.
E isso não é exclusividade só de quem adota, pois até mesmo com pais de filhos biológicos isso acontece.
A explicação é simples: criar vínculos afetivos não é uma questão de laços de sangue, mas sim de dedicação, cuidado, amor e presença constante.
Dessa forma, para muitos pais, o amor surge com o tempo, à medida que as pequenas interações do dia a dia vão construindo uma relação de confiança e afeto.
E para os filhos adotivos, como funciona?
Para as crianças adotadas, especialmente aquelas que passaram por múltiplas separações ou cuidados inconsistentes, o desenvolvimento do apego pode até ser mais desafiador.
Nesses casos, é essencial que os pais adotivos compreendam a importância de construir um vínculo forte e assim, se dediquem a criar um ambiente onde a criança se sinta amada, segura e valorizada.
Para isso, é primordial que passem tempo de qualidade juntos, respondam de forma sensível às necessidades da criança, e garantam que ela saiba que seus cuidadores estão sempre presentes para oferecer qualquer suporte de que precisem.
Além disso, sempre é bom ter em mente que o processo de desenvolvimento do apego não acontece da noite para o dia. Portanto, em alguns casos, leva meses ou até anos para que a criança se sinta completamente segura com sua nova família.
Sendo assim, é importante que os pais entendam e permitam que esse processo aconteça no seu próprio ritmo, sem pressões ou expectativas irreais. Por fim, se julgarem necessário, sempre é válido contar com orientação profissional.
Diferenças no estabelecimento de vínculos por idade da criança
A idade da criança no momento da adoção tem um impacto considerável na forma como os vínculos afetivos são estabelecidos.
Isso porque, cada faixa etária traz consigo diferentes desafios e oportunidades que influenciam no processo de integração, adaptação à nova casa e apego aos pais adotivos.
- Bebês e crianças pequenas (0 a 3 anos)
Crianças adotadas nessa faixa etária têm uma maior probabilidade de formar vínculos afetivos rapidamente, pois estão em uma fase em que o apego é naturalmente mais fácil de ser estabelecido.
A proximidade física, como carregar no colo, alimentar e brincar, são formas naturais de criar esses laços.
No entanto, mesmo tão jovens, é possível que essas crianças tragam consigo resquícios de experiências anteriores, como a separação brusca de uma mãe biológica ou ocorrências dos tempos passados em instituições.
Por isso, o acolhimento contínuo, o afeto e a oferta de um ambiente seguro são essenciais para ajudar essas crianças a desenvolverem um apego saudável.
- Crianças em idade pré-escolar (3 a 5 anos)
Nessa fase, as crianças estão começando a desenvolver sua identidade e a compreender o mundo ao seu redor.
Entretanto, elas terão memórias de suas vidas anteriores e por conta disso precisarão de mais tempo para se adaptar à nova família.
Por isso, uma boa comunicação combinada com atividades que promovam confiança e conexão emocional, como ler histórias juntos ou participar de jogos, auxiliará a criança a se sentir mais à vontade em seu novo ambiente.
Contudo, também é importante que os pais estejam atentos aos sinais de insegurança ou medo e ofereçam suporte emocional constante.
- Crianças em idade escolar (6 a 12 anos)
As crianças dessa faixa etária podem demonstrar desafios específicos ao serem adotadas, pois já desenvolveram uma compreensão mais apurada das relações, tendo experiências passadas que influenciam sua capacidade de confiar nos adultos.
Em casos assim, a escola pode ser tanto um ponto de apoio quanto uma fonte de estresse, dependendo de como a criança reage ao novo ambiente e interage com seus colegas.
Desse modo, os pais devem trabalhar em estreita colaboração com os professores e outros profissionais da escola para garantir que a adaptação seja o mais suave possível.
Já em casa, proporcionar um ambiente onde a criança tenha liberdade de expressar seus sentimentos – bons ou ruins- sem medo de julgamento, é crucial para o desenvolvimento de vínculos saudáveis.
- Adolescentes (13 anos ou mais)
A adoção de adolescentes apresenta desafios mais específicos, pois eles estão em uma fase da vida em que a independência e a formação de uma identidade própria são prioridades.
Nesse contexto, adolescentes adotados podem lutar com sentimentos de rejeição, abandono, necessidade extrema de aceitação ou confusão sobre sua identidade.
Por isso, os pais devem abordar esses sentimentos com sensibilidade e respeito, oferecendo apoio, mas também espaço para que o adolescente possa expor suas emoções.
E para que a comunicação flua bem, é de suma importância orientá-lo sobre como fazer isso de maneira honesta, porém respeitosa, contribuindo para a construção de uma relação de confiança entre pais e filhos.
Integração à nova família
Após a adoção, esse processo pode variar bastante dependendo da idade da criança, de suas experiências anteriores e do ambiente familiar em que ela é inserida.
Para facilitar a integração, é importante que os pais adotivos criem uma rotina estável e previsível, onde a criança se sinta segura por saber o que esperar.
Nesse sentido, a consistência nas rotinas e o estabelecimento de regras ajuda a estabelecer limites claros, que são fundamentais para um ambiente de confiança.
Além disso, os pais devem sempre se atentar às necessidades emocionais da criança, ajudando-a a lidar com sentimentos de medo, ansiedade ou até mesmo saudade de sua vida anterior.
Também é importante o envolvimento dos amigos próximos e outros membros da família. Avós, tios e primos têm um papel importante na criação de um círculo de apoio que reforça a sensação de pertencimento da criança.
Por isso, incentivar a participação em atividades sociais dentro e fora de casa, ajudará a criança a gerar uma rede de relacionamentos, entendendo que sua nova família faz parte de uma comunidade maior.
Adoção nas diferentes fases da vida dos pais
A idade dos pais no momento da adoção influencia na dinâmica familiar e nos desafios que surgirão ao longo do tempo.
Adotar um filho aos 30 anos, por exemplo, geralmente significa que os pais terão mais energia física para acompanhar o ritmo da criança, além de estarem em uma etapa da vida onde ainda estão estabelecendo suas carreiras e objetivos pessoais.
Isso pode trazer benefícios, como a flexibilidade para se ajustar às necessidades do filho, mas também pode gerar desequilíbrio entre vida profissional e familiar.
Por outro lado, adotar aos 40 anos pode significar que os pais estão em uma fase mais estável de suas vidas, tanto emocional quanto financeiramente.
Além disso, a maturidade adquirida ao longo dos anos pode ajudar na tomada de decisões mais ponderadas e na criação de um ambiente mais seguro e estruturado para a criança.
No entanto, a diferença de idade entre pais e filhos pode criar uma lacuna em termos de interesses e energia, o que requer mais trabalho para manter a conexão com a criança.
Já adotar aos 50 anos ou mais pode trazer obstáculos adicionais, como preocupações com a saúde a longo prazo e uma diferença geracional mais acentuada.
Contudo, muitos pais nessa faixa etária trazem consigo uma sabedoria e paciência que podem ser extremamente benéficas para o desenvolvimento emocional da criança.
Ademais, esses pais frequentemente têm uma rede de suporte maior, até mesmo com filhos mais velhos que podem apoiar na educação e cuidado do novo membro da família.
Adoção por casais homoafetivos
A adoção por casais homoafetivos ainda enfrentam desafios sociais e preconceitos, mas a legislação brasileira garante que eles tenham os mesmos direitos que casais heterossexuais no que diz respeito à adoção.
Casais homoafetivos trazem uma perspectiva singular para a criação dos filhos, apresentando um ambiente familiar inclusivo e aberto à diversidade.
No entanto, a maioria desses casais se deparam com adversidades relacionadas ao preconceito externo e à necessidade de reforçar a autoestima e o bem-estar emocional dos filhos em um mundo que ainda está aprendendo a aceitar todas as formas de se compor uma família.
Direitos legais dos pais adotivos
No Brasil, pais adotivos têm os mesmos direitos que pais biológicos em relação à licença-maternidade e paternidade.
Sendo assim, a legislação assegura que mães adotivas tenham até 120 dias de licença-maternidade, independentemente da idade da criança adotada, com a possibilidade de prorrogação por mais 60 dias em empresas que fazem parte do Programa Empresa Cidadã.
Já para os pais adotivos, é garantida uma licença-paternidade de cinco dias, que também pode ser prorrogada em alguns casos.
Esses direitos são fundamentais para que ambos os pais possam dedicar tempo e atenção integral à adaptação do filho adotivo ao novo ambiente familiar.
Desse modo, durante esse período, é essencial que os pais estejam disponíveis não apenas fisicamente, mas também emocionalmente, para ajudar a criança a se sentir segura e amada em sua nova casa.
Afinal, como vimos até aqui, criar vínculos afetivos com um filho adotivo é uma tarefa que exige amor, paciência e compreensão, pois cada criança traz consigo uma história própria, e cabe aos pais adotivos acolher essa história e oferecer um lar onde o afeto e a segurança sejam constantes.