Após uma experiência de parto negativa, é comum que as mulheres sintam uma mistura de emoções, como tristeza, raiva, medo e sensação de fracasso.
Em alguns casos, a mãe pode pensar que “falhou” de alguma forma por não ter tido o parto idealizado e essa carga emocional, quando não processada corretamente, acaba gerando ansiedade, culpa ou até depressão pós-parto.
Nesse sentido, o primeiro passo para a superação dos sentimentos negativos é reconhecer e validar essas emoções.
É natural se sentir triste ou decepcionada quando algo tão importante não acontece conforme o planejado e é preciso dar a devida atenção a tudo isso.
Muitas vezes, a mãe pode sentir a necessidade de “seguir em frente” rapidamente, pois a chegada do bebê exige dela muito cuidado e atenção, mas isso não significa que seus sentimentos devem ser ignorados ou negligenciados.
Falando sobre a experiência de parto negativa
Conversar sobre o que aconteceu é uma das formas de começar a processar a experiência ruim. Sendo assim, compartilhar seus sentimentos com o parceiro, familiares, ou amigos de confiança ajudará a aliviar o peso emocional.
Para algumas pessoas, escrever sobre o que sentiu durante e após o parto também pode ser uma maneira de desabafar e reorganizar os pensamentos. Então, é interessante também considerar a escrita como forma de exteriorizar os sentimentos.
Além disso, falar com outras mães que passaram por experiências semelhantes pode trazer conforto, acolhimento e a certeza de que não foi a única a enfrentar uma situação dolorosa, mas que pode, sim, ser superada. Existem grupos de apoio tanto presencial quanto online que podem auxiliar.
Devo buscar apoio profissional?
Nem sempre conversar com amigos e familiares é suficiente para lidar com o trauma de um parto negativo.
Nesses casos, contar com ajuda de um profissional especializado, como um psiquiatra ou psicólogo, pode fazer toda a diferença.
Existem terapias voltadas para traumas de parto ou a própria terapia cognitivo-comportamental contribuirá para que a mãe reorganize suas emoções e lide da forma correta com o impacto psicológico da experiência.
Alguns hospitais também oferecem serviços de pós-parto, onde as mães podem ter consultas com psicólogos ou assistentes sociais para discutir o que aconteceu.
Pode até não parecer, mas ter esse espaço onde você pode fazer perguntas, esclarecer dúvidas e entender melhor os procedimentos que foram realizados durante o parto pode contribuir no alívio de algumas angústias.
Ressignificando o parto
Outra maneira de superar uma experiência de parto negativa é ressignificar o que aconteceu.
Sendo assim, ao invés de focar apenas no que deu errado, a mãe pode tentar encontrar aspectos positivos da experiência, como reconhecer a própria força por ter passado por um momento difícil, comemorar a chegada do bebê, ou mesmo valorizar o apoio recebido da equipe médica e dos familiares.
Uma prática que também pode ajudar nesse processo é criar um novo “nascimento” simbólico.
Algumas mulheres participam de rituais de renascimento, onde podem visualizar ou recriar, de forma emocional e simbólica, o nascimento do bebê de uma forma mais positiva para elas.
Mas isso sempre deve ser feito com a ajuda de terapeutas especializados, ou doulas que focam sua abordagem justamente no auxílio de mães que tiveram uma experiência de parto negativa.
A relação da mulher com o próprio corpo após o parto
Um aspecto que quase sempre é negligenciado quando se fala em partos traumáticos é a relação da mulher com o próprio corpo.
Depois de um parto difícil, muitas mães podem se sentir desconectadas ou até frustradas com seu corpo, especialmente se tiveram complicações físicas, como lacerações, cesárea de emergência ou longos períodos de recuperação.
Contudo, é importante dar a si mesma o tempo necessário para se curar, sem pressões para “voltar ao corpo normal” rapidamente.
Sendo assim, cuidar de si, seja através de repouso estendido, alimentação mais saudável, ou atividades físicas leves, certamente contribuirá para que se reconecte com seu corpo e comece a sentir-se mais confortável.
Massagens pós-parto, yoga, meditação ou sessões de fisioterapia voltadas para a recuperação física são opções que também poderão trazer bons efeitos nesse processo.
Outros cuidados necessários após uma experiência de parto difícil
Durante o pós-parto, muitas mães acabam se dedicando integralmente ao bebê e deixando de lado suas próprias necessidades.
Embora seja natural colocar o recém-nascido em primeiro lugar, é importante lembrar que o autocuidado também faz parte do processo de recuperação, especialmente após uma experiência de parto negativa.
Autocuidado vai além da questão física – é também sobre cuidar da saúde emocional e mental. Logo, reservar tempo para focar em cuidados pessoais, pode fazer uma enorme diferença no bem-estar geral de qualquer mãe.
Nesse contexto, dedique tempo para fazer outras atividades que não estejam diretamente relacionadas ao papel de mãe.
Pode ser tomar um café com uma amiga, fazer um passeio sozinha ou mesmo ter algum tempo livre para ler um livro, assistir um filme ou apenas descansar a mente fazendo algo de que goste.
Mas, é importante que a mulher se sinta apoiada para isso e que a rede de suporte, seja o parceiro, familiares ou amigos, compreendam a necessidade de contribuir para que ela tenha esses momentos de relaxamento e cuidado próprio.
Então, converse com sua rede de apoio e seja honesta ao explicar que seu autocuidado é parte essencial da rotina materna. Ou seja, você precisa estar bem para cuidar bem do seu bebê.
Fortalecendo os vínculos com os bebê após uma experiência de parto negativa
É comum que algumas mães que passaram por um parto traumático sintam dificuldade em criar um elo imediato com o bebê.
O problema é que esse sentimento pode gerar ainda mais culpa, já que o imaginário coletivo muitas vezes idealiza que o amor materno é instantâneo e incondicional.
Entretanto, é preciso entender que criar uma conexão com o recém-nascido pode levar tempo para algumas mulheres e isso é normal.
Vínculo entre mãe e filho nasce e se fortalece com o tempo, através dos cuidados diários, dos momentos de afeto e do aprendizado mútuo.
Sendo assim, permitir-se viver esse processo de forma natural, sem comparações ou cobranças, é importante para a saúde emocional.
Dê tempo ao tempo
Superar uma experiência de parto negativa não é um processo imediato, pois cada mulher tem seu próprio ritmo de cura e é essencial que esse tempo seja respeitado.
Comparar-se com outras mães ou esperar uma recuperação rápida pode gerar mais frustrações e agravar o sentimento de incapacidade.
Com o tempo, e com as estratégias certas, muitas mães conseguem transformar a vivência de um parto traumático em uma oportunidade de aprendizado e de fortalecimento.
Desse modo, reconhecer os próprios limites, buscar apoio quando necessário e, principalmente, entender que o tempo de superação é único para cada pessoa, é a rota para se recuperar de forma saudável.