Os limites são imprescindíveis para que as crianças saibam o que é esperado delas e para que estejam seguras também.
Desse modo, quando os pais estabelecem regras justas, os pequenos aprendem pouco a pouco sobre a importância de respeitá-las – mesmo que a princípio “torçam o nariz” para elas.
Um bom exemplo disso é a limitação de horário para jogar vídeo game ou ver televisão à noite. Trata-se de uma regra fácil de entender e que a criança é capaz de cumprir.
Mas, quando falamos de regras o mais importante é explicar o porquê delas para que facilite a aceitação dos menores. É como sempre frisamos por aqui, o diálogo e a escuta ativa são primordiais para a boa relação entre pais e filhos.
Ainda falando do exemplo que citamos, se a criança entende que o horário de dormir é importante para sua saúde e para que tenha energia no dia seguinte, ela estará mais propensa a concordar e seguir as normas sem muito estresse.
No mais, em casos como esse, é possível negociar com seu filho que o horário para diversão com os games se estendam um pouco mais aos finais de semana, ou em dias específicos, se ele se comprometer a respeitar os horários já pré estabelecidos.
Novos tempos pedem novas abordagens educacionais
No passado, os pais costumavam determinar uma regra e não dar maiores detalhes sobre a razão delas estarem sendo impostas. Quando eram questionados, muitas vezes se resumiam a responder com frases do tipo: “Apenas obedeça” ou “Eu sei o que é bom para você”.
Entretanto, os tempos são outros e as novas gerações não aceitam esse tipo de fala como suficiente para obedecerem. Inclusive, já temos aqui no blog uma reflexão sobre a obediência que vale dar uma olhadinha.
Contudo, diálogo e negociações são úteis diante da contestação de limites ou de impasses, mas isso não significa que todas as regras de um lar devem ser negociáveis.
A ideia é deixar claro que há espaço para ouvir e considerar as perspectivas da criança diante das limitações impostas, pois sabemos que tais limites, na maior parte das vezes, são necessários para o bem estar delas.
Negociando com as crianças sobre o uso de eletrônicos
Negociar com crianças não significa ceder a todos os seus desejos, mas sim estabelecer um canal aberto para o diálogo onde ambos os lados são ouvidos.
Esse processo é super positivo, pois ensina às crianças na prática sobre a melhor forma de resolver os problemas com base na comunicação.
Além disso, facilita a interação entre pais e filhos, uma vez que demonstra que os cuidadores respeitam e valorizam a opinião deles, o que incentiva para que tenham comportamentos mais cooperativos.
Contudo, na era digital, limitar o uso de eletrônicos é um desafio comum que pais e educadores enfrentam. Mas, não tem outro jeito, estabelecer regras claras sobre o tempo de tela e realizar um acompanhamento ativo do conteúdo consumido são essenciais.
Para evitar conflitos – ou pelo menos minimizá-los – avisar a criança alguns minutos antes do término do tempo de uso determinado pode ajudar na transição.
Por exemplo, dizer que “Faltam 10 minutos para acabar o tempo de videogame, então termine sua partida” pode tornar o processo mais tranquilo.
Quanto aos celulares, uma boa estratégia é não deixar que esses aparelhos fiquem carregando a bateria em mesinhas ao lado da cama ou móveis de fácil acesso. O ideal é que permaneçam em outro cômodo, ou pelo menos, bem distante do alcance das mãos.
Já diz o ditado popular: o combinado não sai caro
No contexto de pais e filhos, os combinados são acordos feitos em relação a comportamentos e responsabilidades.
Diferentemente das regras, que são impostas pelos pais, os combinados são discutidos e negociados em conjunto, o que aumenta a probabilidade de serem cumpridos. Ou seja, ambas as partes têm voz tornando justa as definições do acordo.
Mas, e se a criança não cumprir o combinado?
Nesse caso, respire fundo e não ceda ao desejo imediato de punir. Isso porque a educação punitiva pode gerar ressentimento e medo, em vez de ensinar lições. Uma boa alternativa é optar pela lei das consequências naturais dos atos.
Quer um exemplo? Vamos lá:
Você e sua filha estabeleceram um combinado: ela sempre deve arrumar seus brinquedos antes de descerem para o playground do condomínio onde moram. Durante a negociação desse acordo vocês conversaram e sua pequena concordou com isso.
Em uma tarde ensolarada, a criança está tão animada e ansiosa para ir ao playground que decide não arrumar seus brinquedos. O que você faz nesse caso?
Como dissemos, respira fundo primeiro e, em vez de puni-la dizendo que não vão mais sair, simplesmente aplica a consequência natural ao que a pequena decidiu.
Explica que, como os brinquedos não foram arrumados, vocês terão que usar parte do tempo do playground para arrumá-los. Provavelmente, a criança ficará desapontada, mas entenderá a conexão direta entre suas ações e as consequências.
No futuro, ela tenderá a ser mais cuidadosa em cumprir os combinados, sabendo que quando são respeitados, não vão impactar diretamente em suas atividades favoritas.
Ainda sobre as consequências naturais dos atos
É importante ressaltar que as consequências naturais são uma parte importante do aprendizado. Se uma criança decide não fazer a lição de casa no horário combinado, a consequência natural pode ser não ter tempo para brincar depois.
Isso ensina às crianças que suas escolhas têm impactos reais e ajuda a desenvolver um senso de responsabilidade desde cedo. No entanto, é importante que as consequências sejam proporcionais à faixa etária e justas.
Negociando com crianças pequenas
Negociar com crianças pequenas pode ser especialmente desafiador, mas ainda assim, também é uma oportunidade de educar. Nesse sentido, para os pequenos de até cinco anos, as negociações devem ser bem simples e diretas.
Por exemplo, se uma criança não quer tomar banho, os pais podem oferecer duas opções: “Você quer tomar banho agora ou daqui a 10 minutos?”. Isso porque, mesmo dando opções limitadas, a criança sente que tem controle sobre a decisão, enquanto ainda segue a rotina estabelecida.
Lidando com a frustração infantil
Parte de negociar com crianças envolve lidar com suas frustrações também. Educar não é fácil e vai exigir que os pais tenham paciência e assumam as rédeas, inclusive sobre a resposta emocional que seus filhos demonstram.
Num primeiro momento, choro e reclamações são os primeiros a aparecerem. Então, valide os sentimentos do seu filho, mas não volte atrás no que foi decidido sobre as regras ou acordos feitos.
Se uma criança fica chateada por não conseguir mais tempo de tela, é compreensível, mas isso não muda o que já estava estabelecido.
Você pode conversar com seu filho argumentando algo como: “Eu entendo que você está aborrecido porque queria jogar mais, mas precisamos seguir as regras para ter tempo para outras coisas também”.
Outro exemplo de situação, é quando a criança quer assistir a um programa inadequado para a sua idade e não pode.
Uma boa forma de lidar com isso é explicando claramente: “Eu entendo que você está curioso, mas esse programa não é apropriado para a sua idade. Podemos encontrar outro para assistirmos juntos.”
Dizer “não” é uma parte inevitável da criação dos filhos, mas isso sempre pode ser feito de maneira respeitosa e empática. Quando for necessário negar um pedido, explique as razões de forma clara e em tom calmo, porém decisivo.
O exemplo continua sendo a melhor forma de ensinar sobre qualquer coisa
As crianças aprendem muito observando os pais. Assim, demonstrar um comportamento respeitoso e justo nas negociações ensina muito mais do que palavras.
Ou seja, quando os pais mostram o motivo das regras e cumprem os combinados, mesmo quando é inconveniente para eles, as crianças aprenderão a fazer o mesmo.
Se um pai prometeu brincar com a criança depois do jantar, mas se sente cansado, mesmo assim ele deve cumprir sua promessa. Afinal, negociações bem-sucedidas são baseadas na confiança mútua.
Dessa forma, as crianças aprendem a importância das normas enquanto se desenvolvem em um ambiente de respeito e cooperação.